Durante a madrugada, fomos atacados pelas insónias do grande “líder” Gauchão Tranquilo que acordou o pseudo intitulado “grupo” 1 hora antes da chegada a Huáng Shan, à semelhança do que já tinha sucedido na viagem para Pequim com o Gnomo Siberiano.
A viagem de comboio foi numa classe inferior (hard sleep), onde os cheiros são muito mais intensos, quer dos chineses, quer das casas de banho. O perfume mais utilizado nos vagões em questão era “Latrine nº 5”.
À chegada a Huáng Shan, fomos abordados para entrar num autocarro para Tangkou (cidade base da montanha) e já lá dentro assistimos a um corropiar de entradas e saídas (o Picos que diga, ficou todo pisado), de gritos e de discussões tipicamente chinesas. De destacar o novo estilo catalogado, à semelhança de Pedrito de Portugal quando aborda o touro, uma chinesa gritava alarvidades sempre com as costas erectas!)
Em Tangkou conhecemos a figurinha do dia: Mister Hu, um chinês que parou de crescer aos 10 anos, que tem uma carrinha do seu tamanho e que falava inglês. Lá fomos com um americano para o seu restaurante (uma sala de 3 por 3 com 2 mesas) comer o melhor pequeno-almoço desde a nossa chegada à China.
Passado pouco tempo, Mr. Hu perguntou-nos se tínhamos perdido alguma coisa. Começamos a verificar os nossos bens e o Pauling deu por falta da carteira… passado um bocado, Mr. Hu voltou a insistir se não faltava mais nada… mais uma vez a voz do Pauling: “o meu telemóvel!”. Mais incrível do que a desatenção do Pauling, é a honestidade deste homem simples e das pessoas que trabalham consigo, a qual foi mais importante do que ficar com mais de 800 dinares (ordenado mínimo é 250 dinares) e com um telemóvel. Passados 10 minutos estava a chegar o sobrinho do Mr. Hu com a carteira e o telemóvel e insistiu para verificar se estava tudo em ordem.
Depois veio a altura de escolher como subir a montanha, sendo as hipóteses:
– “west steps” – subida mais complicada…; – “east steps” – subida mais aconselhável (3 horas e meia).
Naturalmente decidimos subir pelas “east steps”, ficar uma noite na montanha e descer no dia seguinte pelas “west steps”. Mas como achamos que 3 horas e meia a subir era pouco aliciante, optámos por partir do “Yellow Montain Gate”. Foi aqui que passamos a ser os puristas da montanha sem saber…
Mais, insistimos em levar a guitarra para a montanha, para além das nossas mochilas, apesar do conselho do Mr. Hu em ficar com ela no restaurante. Insistimos… vamos levar… Mr. Hu sorriu…
O início era a alegria, a frescura, o saltitar, a rambóia… no final foi o sofrimento, agonia, por palavras do Rapha: Isto foi uma estupidez!…
Pessoal, as montanhas são muito bonitas, percorremos 2 vales enormes espectaculares mas foi muito, muito, muito…difícil…, do tipo, 8 horas a subir degraus e degraus, não até chegar ao rio (isso é para a TAL) mas até chegar ao topo da montanha (segundo o nosso GPS, estimamos que subimos cerca de mil metros). Definitivamente, deixámos de achar qualquer tipo de piada à ceninha do “A mim xubir não me diz nada…”.
Pelo meio vimos uma cascata enorme, os inevitáveis pagodes espalhados pela montanha, e realizámos a primeira actuação da famosa TABAS (Tuna Académica de Baixo e Altos de Shanghai) com o seu original “I got the blues on the mountain”, tendo obtido os seguintes prémios: Melhor Blues, Tuna + Tuna e Tuna Melhores Degrauzinhos…
Já na parte final da subida, quando os mantimentos já escasseavam, tivemos a ousadia de regatear 4 maçãs:
– oferta inicial: 10 zaquines por 3 maçãs;
– oferta final: 8 zaquines por 4 maçãs;
– procura: 6 zaquines por 4 maçãs;
– diferença em euros: 20 cêntimos (nota de autor: já chegamos a pagar 38 zaquines por um café…)
Fomos intransigentes… não aceitámos… seguimos esganados de fome!
Dez degraus depois caímos na real, fomos demasiado rígidos… já está no sangue! É inevitável! Contudo, já era tarde demais, … não nos podíamos dar ao luxo de descer 10 degraus para voltar a subir… estávamos muito cansados…
No final da subida, verificámos no nosso guia (obrigado Carla) que havia uma referência para o percurso que tínhamos acabado de realizar, mas que era apenas aconselhável para os PURISTAS DA MONTANHA!!!
Na “flash interview” de Paivung, este declarou que a maior dificuldade que teve de superar na subida foram as constantes piadas do Gnomo Siberiano, que reduziu a sua capacidade de oxigenação.
Quando chegámos ao topo já era de noite e não foi fácil encontrar o nosso hotel no meio da escuridão, que por sinal era o último: “O barato sai longe…”. No hotel foi a loucura (mais uma actuação do Buda e dos anjos; mesmo reportório), quando de repente se ouve da boca da recepcionista: Sorry!… Parou tudo! Começa-se a ouvir em bom português: “Eu parto esta m&$#a toda!!!… Contrariados, lá seguimos um guia, que nos levou a um outro hotel por onde já tínhamos passado…
Pessoal, foi uma dádiva… um quarto com 3 beliches só para nós e, acima de tudo, um duche normal, do tipo, mesmo normal, com coiso e tudo (estamos sem palavras)!!… (3ª actuação do Buda e do seu coro de anjos; o reportório: nem vale a pena referir…). Banhinho, jantar fora de horas (abriram a cozinha de propósito para nós; foram uns porreiros; ou terá sido o nosso olhar esgazeado de fome…).
Antes de irmos para o quarto, o Picos e o Rapha ainda tiveram direito a uma massagem de 10 segundos que apesar de rápida os levou ao êxtase, efectuadas por 2 simpáticas chinesas biomecânicas.
Fomos dormir o sono dos bravos…
O pessoal todo